PERGUNTAS A MICHEL LAMARCHE SOBRE A ANÁLISE DAS SENSAÇÕES
Psicólogo e antigo formador PRH, Michel Lamarche é o redator principal das obras coletivas «A pessoa e seu crescimento – Fundamentos antropológicos e psicológicos da formação PRH», «Um caminho de acesso à vida em profundidade – Fazer luz sobre si pela análise» «Afirmar-se – A arte de existir com autenticidade e respeito». Atualmente é colaborador voluntário de PRH-Internacional.
A REDAÇÃO DO LIVRO « UM CAMINHO DE ACESSO À VIDA EM PROFUNDIDADE »
Por que dedicar um livro ao método PRH de análise de sensações?
O comitê de redação perseguia três objetivos principais
1. Publicar os fundamentos da análise, o fruto das pesquisas, o método de análise em PRH como escola de formação humana.
2. Dar a conhecer este método que permitiu a tantas pessoas adquirirem uma maior lucidez sobre si, com tamanha profundidade e eficácia para o seu crescimento, que não suspeitavam atingir ao começar. A análise das sensações é o instrumento chave da psicopedagogia PRH. Já foi utilizado por dezenas de milhares de pessoas em todo o mundo.
3. Finalmente, aprofundar a abordagem da importância, da confiabilidade e das precauções na utilização deste instrumento que permite decifrar a realidade interior, para assim responder a questionamentos que temos, especialmente sobre os possíveis riscos de subjetivismo ou narcisismo. Foi importante esclarecer bem tanto a riqueza como os limites do método.
O que este livro pretende transmitir?
Além da descrição do método da análise de sensações em si, tratamos de comunicar a extraordinária riqueza que há na relação consciente da pessoa com sua interioridade. Este instrumento desenvolve uma inteligência refinada, uma maior compreensão e lucidez sobre a realidade, tanto a realidade pessoal como a que está em seu entorno, capaz de ampliar uma fina inteligência, desenvolver um olhar saudável e favorecer o ajuste dos comportamentos pessoais, liberando assim uma criatividade impressionante. Todos nós podemos ter acesso à riqueza que está em nossa interioridade, ainda que nos demos poucos meios que são necessários para isto. O fato de tomarmos consciência desta interioridade abre um caminho incontestável para o nosso crescimento.
Escrever uma obra como esta requer um trabalho de pesquisa. O que se revelou como novo em suas descobertas sobre o tema do livro?
Muitos pontos de referência se destacaram com mais consistência em mim sobre a análise das sensações. Por exemplo, a contribuição fundamental da subjetividade na autodescoberta, a possibilidade de observar um fenômeno psíquico (como uma sensação), bem como a preciosa contribuição dos outros e das referências psicológicas para complementar e esclarecer o conceito entre o subjetivo e o objetivo. Compreendi mais claramente o conceito de realidade interior e sua relação com a realidade objetiva, bem como a verificação que pode ser feita entre ambas. Afinei melhor a importância das « mudanças concretas que aconteceram em minha vida a partir da conscientização do que observei graças à análise ». Aprofundei minha noção de intuição. Graças a um estudo realizado por formadores canadenses, descobri como o modo de cada pessoa se analisar tem a ver com seu modo de « funcionar » em sua vida, pois há uma tendência de se deparar com sistemas de defesa similares nestes dois campos.
Em que o fato de saber se analisar favorece escrever uma obra como esta?
Ah, sim! Fiz análises de conteúdo de conhecimento ao longo de toda esta obra. Tive que buscar continuamente a palavra precisa para expressar as realidades que procurava descrever, e me deixei levar ao mais profundo das minhas intuições e sensações, distanciando-me o menos possível da sensação que tenho da minha experiência de análise, como usuário da mesma e como antigo formador.
SUA EXPERIÊNCIA DE AUTOANÁLISE
Para começar, em poucas palavras, foi importante para você o encontro com esta ferramenta da análise PRH? Em que foi importante?
Através dos meus estudos, havia adquirido alguns conhecimentos de psicologia. Isto me levou a compreender melhor o que vivia em nível psicológico como, por exemplo, minha timidez. Entretanto, tudo isso ficava muito intelectualizado e me deixava distante da verdade das minhas sensações e emoções. Porém, naquela época já tinha desejo de me conhecer melhor! O encontro com a psicopedagogia PRH foi uma surpresa, pois abria em mim um campo imenso de acesso à minha verdade e à verdade de cada um… experimentei uma decepção vendo tudo o que ainda podia conhecer sobre mim, sobre meu passado, minha evolução, e então aconteceu uma abertura apaixonante a pela psicologia que era abordada a partir da experiência, começando pela minha…
Que proveitos você obteve da análise de suas sensações para sua vida pessoal?
O trabalho de análise que vivi com o método PRH foi o começo de um face a face comigo mesmo, com minha experiência a partir da verdade, da descoberta e da progressiva aceitação, tanto de minha parte obscura como de minha parte luminosa. Descobri uma forma de humildade libertadora, curativa, frente à minha realidade e na minha relação com os outros. Vi diminuir consideravelmente aquele temor que eu vivia frente aos outros e que se manifestava na minha timidez, que muitas vezes me paralisava. Agora, tenho a impressão de que posso contar com um tipo de inteligência interior para viver o cotidiano, permanecendo bem situado em minha realidade. Minha prática de análise me ajudou muito a escutar as análises dos outros, quando eu era formador, e me permitiu conseguir alcançar uma certa claridade em meus escritos.
Você tem uma formação como psicólogo. Pôde conhecer e experimentar outras abordagens para se conhecer. O que caracteriza a análise PRH? Em que ela é diferente? O que tem de específico em relação a outros métodos, outras escolas…?
O fato de que a inteligência leve em conta o que é vivido na sensibilidade e no corpo como caminho de acesso à realidade não começou com PRH. Aristóteles havia feito este tipo de observações sobre a importância do que é sentido para chegar a conhecer-se. Mais recentemente, com o auge da psicologia humanista, muitos investigadores se interessaram por esta via de conhecimento e aplicaram métodos específicos para isto (a psicoterapia centrada na pessoa de Rogers, Fucosing de Gendlin, os trabalhos sobre a inteligência emocional de Goleman…)
O que caracteriza a análise PRH é o fato de que não somente chegou a estruturar um método para analisar a vivência psicológica a partir da observação, algo que as pessoas fazem naturalmente, mas também o fato de colocar ao alcance de todas as pessoas um aprendizado consciente deste método. Podemos citar outras características como: o papel que a escrita desempenha para a autonomia pessoal, e que este método permite, a partilha das próprias análises a outros, a utilização de associações espontâneas entre as sensações, o que leva a aprofundar mais na direção do seu ponto de emissão, a referência ao sistema explicativo PRH da pessoa…
Você diria que a análise das sensações é hoje um ponto forte do método PRH? Em caso afirmativo, por quê?
Não há dúvidas de que é um elemento chave de toda a pedagogia PRH. Proporciona à pessoa um caminho de busca muito refinado para favorecer o encontro consigo mesma, a autodescoberta, a compreensão de si e o avanço pessoal.
A FINALIDADE DA ANÁLISE PRH
Há alguns anos, a revista Philosophie Magazine apresentou o artigo: «É útil conhecer-se?» Se é útil, por que seria bom analisar-se? O que isto aporta à pessoa?
Analisar-se, – assim como escutar. Falar, acreditar, amar, perdoar, questionar-se…, – para mim é um dos atos mais importantes que uma pessoa pode realizar em sua vida. Analisar-se traz lucidez sobre o que vivemos. Passamos de uma impressão, de sensações suaves a palavras precisas que descrevem exatamente o que sentimos, e percebemos de onde vem o que sentimos. Esta lucidez é tão útil para a pessoa como o são os faróis de um carro que dirigimos à noite. Sem a análise permanecemos em algo vago, na escuridão da nossa inconsciência, na superfície de nós mesmos, presos a esquemas ou representações que às vezes nos deixam muito distantes da realidade. Analisar-se nos torna inteligentes e livres, situa-nos na linha exigente e vitalizante da nossa verdade. O fato de se analisar com disponibilidade de tempo nos apazigua, pois, por mais difícil que seja aceitar a verdade no momento, com o passar do tempo isto vai sendo uma fonte de libertação e de serenidade. Há uma relação evidente entre a análise e a confiança em si mesmo. Quando conhecemos nossas potencialidades e nossos limites podemos tomar decisões realistas e levar até o fim as ações subsequentes.
Outro efeito importante é a inteligência que o nosso próprio trabalho de análise nos oferece sobre o que os outros vivem. Há uma espécie de empatia que muitas vezes nos faz perceber com bastante exatidão o que o outro está vivendo interiormente.
A análise PRH não é o único modo de autoconhecer-se. Por que PRH privilegiou este?
Felizmente, existem muitos meios para o autoconhecimento, de modo que cada pessoa pode encontrar o que lhe parece melhor, de acordo com a etapa em que se encontra. Sem pretender ser exaustivo, alguns destes meios são: estudos grafológicos, realização de testes psicológicos, balanços da própria competência, trabalhos sobre si por meio de alguma psicoterapia ou de acompanhamento por um profissional, tomar um tempo para falar com alguém próximo sobre as próprias aspirações ou dificuldades… Se a escola PRH privilegiou a análise do que sentimos, é porque isto está unido essencialmente ao objetivo que PRH persegue, ou seja, o crescimento da pessoa. Na verdade, as pessoas podem acumular conhecimentos sobre si através de muitos meios, sem que este saber produza um impacto sobre o seu crescimento. PRH tem um enfoque muito experiencial. Trata-se da relação consciente da pessoa com sua experiência interior, e é isto o que a coloca em movimento, a caminho, pois esta forma de analisar-se contém uma dinâmica de crescimento muito específica.
É possível adquirir conhecimentos novos por meio da análise? De que tipos?
As pessoas que praticam a análise tendem a se surpreender ao constatar como, aos poucos, vão se enriquecendo com um capital de conhecimentos que nunca haviam pensado adquirir. Conhecimentos sobre si, sobre sua identidade, sua maneira de funcionar, sua vocação, seus mecanismos de defesa, sua forma de relacionar-se com os outros, mas também sobre conhecimentos de psicologia, mecanismos de defesa, mecanismos de crescimento, fenômenos que regem as relações humanas, etc. Além disso, é preciso destacar todo o enriquecimento que a análise de conteúdos de conhecimento oferece. Por exemplo, no livro eu me questionei sobre o que é uma intuição. Aqui, o campo de conhecimentos é inesgotável!
Você afirma que a capacidade de viver relações harmoniosas é diretamente proporcional à capacidade de analisar as próprias sensações. Poderia ampliar esta afirmação audaciosa?
A inconsciência, a negação, a rejeição em olhar de frente para a verdade, o fato de não querer escutar a si ou ao outro, a repressão das emoções, a justificação, o julgamento, a projeção dos próprios conflitos interiores sobre o outro, e muitas outras atitudes ou comportamentos envenenam as relações cotidianas e, frequentemente, levam à desesperança quanto ao futuro das mesmas. Ao contrário, a análise das próprias sensações se revela como um caminho muito eficaz para colocar a pessoa no caminho da verdade, da aceitação de si e na legítima autoafirmação, bem como num saudável questionamento. A harmonia nas relações não se deve ao acaso ou somente «à química», mas à realização de um trabalho sobre si, verdadeira fonte de ajuste e de paz.
É possível afirmar que a análise PRH pode também produzir um impacto social?
A humanidade atravessou uma etapa fundamental em sua humanização quando começou a desenvolver um vocabulário que lhe permitia expressar o que sentia interiormente. A partir desse momento, a humanidade pôde começar a participar de sua própria evolução, rompendo com a primazia que o « instinto » tinha em sua vida. Desenvolver a capacidade de análise das pessoas com métodos eficazes significa fazer com que a humanidade tome mais consciência da imensa «jazida» de recursos que possui e ajudá-la a se tornar mais consciente de seus disfuncionamentos, bem como dos lugares onde estes se enraízam em cada pessoa e nas estruturas sociais, para assim poder remediá-los. Quando vejo o poder de transformação que podemos obter quando somos um pouco mais conscientes de nós mesmos, penso no possível impacto de transformação em nível social que poderia acontecer se cada vez mais pessoas desenvolvessem a capacidade de autoanálise, com a ferramenta que escolhessem, com vistas a uma maior humanização da humanidade.
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