MUDAR…
Texto de Ana Azofra – Formadora PRH
Para transformar verdadeiramente a própria vida, é muito importante desejar conhecer-se interiormente. Entretanto só isso não é suficiente.
Nestes longos anos em que acompanho pessoas em sua caminhada pessoal,
constato um fenômeno que às vezes não é percebido com nitidez, mas que
frequentemente está presente de forma muito sutil nas pessoas, dificultando ou freando o seu avanço: « Não querer mudar »
Sim, é isso mesmo: não querer mudar.
A grande maioria das pessoas deseja, com todas as suas forças, ver desaparecer os sintomas que as fazem sentir-se mal (a insegurança, a angústia, a dependência, etc…). Elas desejam que tudo isso desapareça, mas sem ter que « colocar as mãos na massa » para reajustar e reeducar progressivamente seus funcionamentos e mecanismos desajustados no concreto de sua vida, através de um trabalho que possibilite o crescimento das realidades positivas que traduzam o melhor de si mesmas.
Às vezes, tais pessoas já ficam satisfeitas em poderem falar do que as faz sofrer, acolhem suas sensações, mas param por ai. Não avançam num trabalho concreto sobre isto, não chegam a integrar as luzes que têm a partir de suas descobertas, não conseguem mobilizar sua vontade para atualizar realidades interiores que descobrem em si.
Por que isto acontece?
Sutilmente, essas pessoas não querem mudar. Como diz um provérbio, elas
preferem o « mau que já conhecem » ao « bom que ainda não conhecem ».
Acomodaram-se com a própria imagem. Criaram o seu próprio «buraquinho» no qual se acomodaram e preferem isto ao risco de viverem de verdade. Tais pessoas pensam que querem crescer em autonomia, em liberdade, querem ser elas mesmas; porém, na verdade elas optam por continuar como sempre, instaladas nesse « conforto » habitual.
Algumas continuam ainda sonhando com aquilo que não tiveram quando eram crianças: por exemplo, a aprovação de um pai ou de uma mãe. Para elas, é mais importante o que os outros pensam sobre elas do que aquilo que realmente são no mais fundo de si mesmas, no melhor de si mesmas, onde podem encontrar-se com o que as impulsiona a viver. Sem perceber isto, tais pessoas seguem pagando o preço de não serem elas mesmas, de não conseguirem ser autônomas nem felizes. Deixam de serem si mesmas, às vezes em troca de um pouco de aceitação ou de carinho de alguém. Preferem essa « paz » ou calmaria aparente, ao risco, à coragem de ousar olhar de frente para a própria verdade e de ousar avançar a partir dela.
Apesar do sofrimento, da falta de sabor na própria vida, da insegurança, preferem permanecer vivendo como « crianças » ao invés de tomar o leme da própria vida nas mãos, de ancorar-se no melhor de si e de optar por viver a partir daí. Não acabam de decidir-se a entrar num trabalho de reeducação dos maus funcionamentos que aos poucos foram se instalando.
Não querem mudar quando ficam dando voltas em torno de si mesmas, dos sofrimentos que os outros acordam, quando tentam somente encontrar justificativas para o seu mal-estar nos diversos setores de sua vida (trabalho, relações, família). Às vezes, chegam até a viver uma autocompaixão, uma auto piedade, gastando aí as energias que poderiam ser investidas no crescimento.
Isto que acabo de expressar de maneira um tanto drástica é a verdade que observo. É o grande peso que muitas pessoas arrastam antes de iniciarem um verdadeiro caminho de transformação. É também uma armadilha sutil, na qual se pode cair em determinados momentos, quando se olha de frente para alguns aspectos sobre os quais é necessário trabalhar para mudar.
Se você sente que não consegue avançar verdadeiramente, percebe-se estacionado, se o instrumento de formação que utiliza não consegue produzir mudanças em você, observe se por acaso não estaria acontecendo algo disto…
É importante perguntar-se:
Desejo verdadeiramente mudar ou quero somente que desapareçam os sofrimentos?
Se, querendo avançar, não experimento um sim nítido, consistente, o que me freia?
Minha imagem é que me dificulta? Que aspectos dela.
Acostumei-me a viver e a funcionar de determinada forma, e agora tenho medo de crescer, de avançar? Medo da minha própria autonomia, de ser eu mesmo? De que tenho medo?
Prefiro ficar com o que já conheço, ao invés de preferir o bom que tenho por conhecer, jogando a culpa dos meus mal-estares e sofrimentos sobre os outros, sobre as circunstâncias, sobre o meu destino?
Por que não quero mudar?
Colocar-se diante destas questões pode representar um desafio. Entretanto, pode representar para muitos, o início de uma nova e grande etapa de crescimento.
Se este artigo lhe fala de algo que você vive e, se sentir gosto de deter-se diante das questões acima para respondê-las com toda a sua verdade, apoiado num gosto de progredir, aproveite esta oportunidade. Depois, partilhe com o seu acompanhador.
Olhar para aquilo que nos amarra, compreender o que nos amarra, é o primeiro passo para poder cortar a corda que nos amarra e não nos deixa livres para nos lançarmos na aventura de sermos nós mesmos.
Fomos feitos para viver plenamente, para chegarmos a ser nós mesmos em plenitude.
A vida joga a favor daqueles que acreditam nela e assumem o risco de entrar na aventura de serem si mesmos. Assim, se poderá dizer com toda a convicção: A vida vale a pena.
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